sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Não sou mulher, não me sinto homem

fotografia: Isadora Machado

Essa semana tive uma experiência de reflexão da minha identidade de gênero superior do que minha tradicional maneira de dedicar um tempo em aprofundar meu alto conhecimento. Isso, por conta de algumas discussões que observei em torno da participação dos homens na construção do feminismo. "Homens não podem ser feministas por serem privilegiados do patriarcado" e com este argumento fiquei reticente. 

Minha identidade civil consta que sou do sexo masculino. Não me sinto confortável em definir minha identidade de gênero como feminina. Minha orientação sexual é homossexual, meu sexo é masculino, minha expressão sexual é mista (andrógena, como preferir). Ao sair as ruas com meu vestido branco com bolinhas pretas, minhas pernas peludas, meu cabelo curto e meus traços masculinos, calçando sapatos também masculinos, e bolsas femininas recebo das mais diversas pessoas "respostas" das mais variadas. 

Para minha alegria, existem várias pessoas que me incentivam a me vestir do jeito que gosto e me elogiam pelo meu comportamento, principalmente no que afeta a minha maneira de me vestir. No mês passado, Zé Flauzino dissertou sobre a visão dele sobre minha prática indumentária - com Vinícius veio de vestido - e me soou muito positivo, me senti contemplado. Todavia minha vida não é um mar de rosas em um mundo inclusivo e respeitoso quanto a minha sexualidade e identidade. 

fotografia: Isadora Machado


Saio as ruas com a maior tranquilidade e feliz com a maneira que me comporto e me visto e muitas vezes me sinto desconfortável com a reação de pessoas que parecem ter visto uma aberração passar, é algo desconcertante ser abominável a quem quer que seja. E isso, todos os dias, é algo que me deixa inquieto quanto as reflexões feministas. Posso estar precipitado, mas consigo sentir o que as mulheres passam ao apenas cruzar a rua quando perto de um machista . 

Sobre o assunto da participação dos homens no feminismo, tenho minha posição. Acredito ser de legítima importância a participação de todxs na construção do feminismo enquanto movimento reivindicatório da igualdade de gêneros e de combate as formas de opressão. Contudo acho importante um homem feminista adquirir uma postura consciente dentro do próprio movimento feminista, sempre assegurando o protagonismo feminino, a liberdade de expressão e o empoderamento das mulheres. O papel mais nobre que um homem pode cumprir na luta feminista é disseminar as ideias nos espaços que lhes são convenientes, ou seja, espaços majoritariamente masculinos.

Já a minha reflexão sobre identidade de gênero e o transfeminismo, que é a corrente que acredito ser mais contemplativa e justa com as opressões femininas, receio que ainda minhas indagações não encontram respostas. Pois não sou uma mulher, nem me sinto homem. Diante desse empasse da minha definição da identidade, me vejo em um limbo identitário. E confuso quanto a minha participação feminista.

Tenho certeza ser oprimido, hostilizado e agredido por homofóbicos, por transfóbicos, em suma: MACHISTAS. Estes, que desentendem como pude abdicar dos meus privilégios masculinos, para usar uma saia florida. Acompanho o universo político e sua representatividade, e atesto que não me representam a "cisgeneridade" dos espaços de poder. Quanto a representação simbólica no aspecto cultural, também me vejo omitido de todos os meios de comunicação - salvo raras exceções, como quanto Laerte aparece nos holofotes, por exemplo. Por isso me sinto autorizado em dizer que o patriarcado não me privilegia e o machismo me oprime. Porém, mesmo que repetitivo, não sou mulher, nem me sinto homem.

fotografia: Isadora Machado
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As fotografias fazem parte do ensaio "IDENTIDADE" de Isadora Machado, onde pude contribuir. Creio que as imagens fazem um link quanto o aspecto do "limbo identitário" que me encontro. 

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