quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Por que definir o sexo dos anjos?

Estive, nesta semana, em uma reunião de discussão do orçamento municipal maringaense para os segmentos da cultura, esporte, turismo e lazer, dentre muitas falas de defesa a investimentos públicos nestas áreas, uma me chamou atenção em especial. Não por se tratar de algo excepcionalmente ligado ao tema (o que era também), mas por me remeter outro assunto, o qual me dispus a dissertar neste texto.

A frase era algo semelhante a "estamos tentando achar chifre em cabeça de cavalo", mas no caso a frase era "porque definir o sexo dos anjos?". A citação, que é um ditado popular, é curta, mas carrega uma mensagem extremamente interessante. Pois nos remete a ideia de que existe, sim, mesmo no inconsciente coletivo - aka senso comum - existi a possibilidade de  um ser que não tem sexo definido. Neste caso, os anjos. 

Há situações em que sou indagado sobre qual a minha sexualidade? Ou qual a minha identidade de gênero? E, como já coloquei neste blog, não me sinto confortável em assumir uma identidade tão bem definida e rígida, penso em possibilidades que ainda eu mesmo não concebi. Entretanto, reconheço que é uma dificuldade a determinadas pessoas conceberem tal liberdade.

Ainda nesta semana, assisti pela primeira vez o trailer do documentário de Miriam Chnaiderman, "De Gravata e Unha Vermelha", que aborda justamente a vida de pessoas que habitam o limiar das identidades de gênero, bem como as pessoas que passaram pelo processo de transexualização. Segue o vídeo:


A mensagem é nítida e glamourosa, claro. Existem pessoas das mais diversas sexualidades e identidades. Pense em orientação sexual como uma linha reta onde a homossexualidade está em um extremo e a heterossexualidade em outro, entre a TRANSição desses extremos existem inúmeras orientações sexuais em que podemos nos apropriar sem a rigorosidade dessas "definições cardiais".

Muito da identidade de gênero e alguma coisa da orientação sexual refletem na expressão de gênero, acredito. Como o documentário mostra, essas são pessoas que geralmente não encontram seus looks em lojas de departamento, principalmente na sessão em que seu órgão reprodutor aponta, logo são pessoas consideradas "extravagantes", o que é natural (ao meus olhos), mas sei que em relação a postura da sociedade como um todo não é a mesma e sinto isso na pele. 

Sou trans usando um vestido de bolinhas ou uma calça social. A minha identidade de gênero não é pautada pela maneira que me visto, pelo contrário, é minha identidade que determina qual será a minha expressão de gênero, que por sua vez pode ser flexível também. 

Ainda que a literatura nos permita definir algumas orientações e identidades, será que vale a pena? Ou seja, por que definir o sexo dos anjos?

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