quinta-feira, 17 de março de 2016

Ópera para automóveis



I
Falar a verdade. Essa simulação. Fliperama erudito autodidata. Essa liberdade. Perigo. O caminho do impossível é cravejado de acidentes. Tudo bem. Fique em silêncio. Engula o silêncio. Leve o silêncio para passear. Tome café da manhã todos os dias com o silêncio. Come um pão sírio em prato de louça. Tome café. Tome suco em pó. Sabor e aroma artificial. Plástico. Arte póvera. De sangue. De uva. Cálice. O teu silêncio provoca borbulhas etérias nos limites do meu corpo. Minha pele. E cartilagem. Minhas mucosas. Toda força líquida. Mar. Eu. Um mar colateral. Um efeito do teu silêncio. Em. Fim. Tudo. Bem. Eu já falei. Estou falando. Vou falar amanhã. Eu repito todos os dias. Confesso. Desculpa. Por favor. O senhor é meu pastor. Nada me faltarás? Pai.

Um minuto de silêncio. Sombra épica de mil anos. Umidade mórbida entre as juntas. Microfissuras de concreto e a insolidez histórica. História. Conto de fadas libanês. Encontrar a sinuosidade dos semitons. Oriente. Médio. Sino secular de programação digital. Gotas de perfume iraquiano. Barril de petróleo. Este continuísmo crônico patológico. O horário de almoço. Meia noite. E o amanhã. Me perco todos os dias. Parasita pandêmico palestino. Sorte. Uma roleta girando na Rússia agora. Todo um processo de sequelamento continuado. Pós-graduação nestes sinos. Todo dia dia todo. Ecos e espelhos góticos. Amplidão. Ouvi um sinal. Dentre o silêncio todo dia pai a cidade finalmente responde. Falo. Falo. Falo. Falo. A cidade é minha companhia. Explodir confessionário arcaico. Minha mente ecoa involuntariamente cantos gregorianos na minha paz.

Fezes aromáticas de cão doméstico. A miséria anêmica de uma página em branco. Quero criar aparelhagens ferramentosas incríveis. Trabalhar com vidros. Engendrar um vitral rococó. Bordar um vestido com prédios. Tecer uma malha viária. Estimular o fluxo de vida e morte dos cruzamentos da avenida. Brasil. Dívida e resiliência. Um cidadão sírio acordou à comprar pão. Sírio, numa paisagem caótica. Tempestade de gases insolúveis que borram as nossas profundidades.

Guerra e alienação. Estar coberto de razão sob uma marquise comercial em dia de chuva. Templo nude hipericonoclástico. Senhor. Pai. Tu. Figura masculina cis de poder e criação. Benção e corrupção. Banana maçã no aquecimento global. Transplante uterino para transumanos maternais. Ser vestido e acessório de Lady Gaga. Nenhum café te acorda. O plágio. Papa. A primeira e seis subsequentes trombetas de juízo. Estrondosos rugidos de dor estomacal. A fome. Imagem de desolo e sofrimento. Religioso. Acadêmico. Um estudo da pós dramaturgia apocalíptica. Uma mulher vestida de sol. Nua e sagrada. A primeira sessão de sapatos lunar calça o seu pé minúsculo. Descondensado doce deleite virginal. Sobre mesa típica. Israel. Artigo gramatical feminino. A Seca. A mulher. A maçã. A serpente.0

Mamografia pornoterrorista. 3D. Chuva de leite ácido e a corrosão de monumentos sacros. Mama. A terrena trindade satânica. Operação policial de combate a pirataria e tráfico. Ilustrar textos bíblicos. Falsear profecias divinatórias. Eu olho para mim mesma e choro. Minhas lágrimas enchem um espelho d'água. Rodeia minha torre como touro azarado. Finca espada diária. No meu olho. Besta. Comendo meu olho em ritmo de esbórnia. Numa briga de galo. Agora meu olho é seu. No chão vermelho. Marroquino.

A roda da fortuna
II
Manifesto pena nos meus pensamentos mais elaborados. A minha língua se comprime com a saliva grossa. Não bebi água suficiente, mas a minha condição de pessoa neste ato não anseia sede. A máxima da vontade de realização criativa em um movimento vertical assume meu tempo e meu movimento, toma minha água e meu ar. No terreno estão os meus caminhos em geometrias astrológicas que arquitetam minha civilização pessoal, de mestres e família, matéria funda da montanha em mim, javali de madeira, meu sol e meu ascendente em signo de fogo.

Sou de um veludo antigo, colorido, com sinuosas flores em relevo, no traje tradicional do sacerdote védico ancestral. Vive na montanha em mim, tem uma cabana excêntrica singular, com telhado baixo e paredes irregulares. Janelas assimétricas delicadas, um semeador trabalhando em felicidade, a precariedade assumida como bandeira de estado. Cozinha rústica, um caldeirão de sopa alquímica com raízes medicinais, quente, no fogo de barro e o carvão em brasa. A fumaça subindo como uma entidade primitiva de anunciação, chama os magos ao meu redor, à ritualizar gestos enérgicos para iluminar o misterioso e o secreto.

Matemática pitagórica da virtude do heroísmo materno. Fungo fértil de trigo, úmido, contra a madeira crua a germinar pão, alimento desjejunal de três estômagos unívocos em um corpo celeste dispare. Amamentação de cavaleiros cabais. Assenta-te uma pedra fundamental sob o fogo criativo, de criação, do criador. Iconoclasta trindade sincrética dos símbolos ocultos. 

Meu pensamento hermético secreto arquiteta uma ponte helenística. Oito sátiros carregam nas mãos um liteira chinesa, nela viaja uma virgem anciã, a escada chakrarica salomônica, uma flauta doce soando ruídos astrocognitivos.

fim

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