terça-feira, 12 de abril de 2016

Ensaio sobre a lucidez de Siena Bruna Naamah


SIENA BRUNA NAAMAH, o demônio feminino de Sade, o Marquês. 1993, vinte e poucos, entre Maringá e Curitiba. Escritora, poeta e louca. Responsável pela Kadosh Publicações, um selo editorial independente, profano e experimental. O terreno íngreme entre o ocultismo e a gnose, entre a necrofilia e o descaso, a puta da família. Obscena.

A primeira edição realizada pelo selo experimental Kadosh Publicações, assinado por Bruna Siena, que agora atende como Siena Bruna Naamah, é "M/\RDVK", de sua própria autoria e psicografia. Siena atira-se independente e empoderada, sob seu auto-crivo, iconoclástica, dentre um cenário literário polido e senil da poética de Maringá. Na cena paranaense, Siena joga com nomes reveladores como de Martina Shon Fischer, autora de "Buco" e "Aqui", mulheres jovens e ousadas que rompem com a performance e a temática literária contextualizante e acendem uma luz da criação poética de uma geração.

Longe do intuito de mitologizar um nome, prego pela historicidade das relíquias contemporâneas da nossa literatura de língua portuguesa. Em 24 páginas o livro constitui-se na brevidade de uma clarividência imagética literal. É potencia a cada expressão vocabular entre virgulas incessantes, que cortam os fluxos de pensamento do leitor, que já nos primeiros versos habita zonas baixas, provavelmente ainda inexploradas pela própria experiências. Siena abre os olhos e descreve um universo onde vida e morte são sinônimos. Quem lê choca-se, quebra a casca moral.

Em uma pesquisa superficial na mitologia antiga, encontra-se Marduk (também como Marduque ou Marodaque) como um deus babilônico, vitorioso, unificador e divisor, representante da luz e da ordem. Simbologia que desponta com o cenário do livro de Siena, mesmo envolto de tamanha claridade, seus escritos acumulam "...as infiltrações e musgos esmagados entre um jazigo e outro...", nas próprias palavras. Entre essas páginas, dialogam um deus mítico de uma civilização extinta e uma jovem profana, mulher, artista e prostituta, dessa civilização caótica. 

Divide-se em três partes de um Rito de Passagem o escrito inclassificável de Siena, seja um ballet gótico, uma novela mística, uma partitura dramática ou uma interpretação esotérica iniciática. A primeira parte do rito titula-se como necromance, ideia cabível ao conjunto da obra idem. Entrelaça ideias de transitoriedade e pós-morte, tece o espaço imagético por recursos verbais que soam um discurso ritual, com nuances trágicas e redentoras. Tem uma genuína emo(a)ção, um conflito extraterreno e desumano, alteridade como uma política vigente. Marduk habita uma utopia realista, é um deus ciente da paralela relação de mito e mentira. Mi(n)to logo existo.

De gêmeos com ascendente em escorpião. Se "Marduk" fosse um arcano do tarot de Marselha, seria A Morte. É uma multiplicidade de símbolos que habitam um espaço depois do ponto final.

NOTA DE ESCLARECIMENTO
Optei por este formato de texto, "sem pé, nem cabeça", para obter melhores resultados sobre a indagação do leitor em acessar o referido livro. A poética e performance da obra dialoga com o que escrevo neste blog, por isso me vali de total liberdade literal. A quem possa interessar, compre o livro pela página da Kadosh Publicações ou por contato com a própria escritora.

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