quarta-feira, 29 de junho de 2016

Diálogo em hum homúnculo e o seu frasco de destruição

Androgyny.The Nuremberg Chronicle

Acordei estranho e conversei com um peixe que evitava as sombras. Me fez olhar nos seus olhos laterais. Sua cabeça, como espada, abriu minha mente. Literalmente. Quebra cabeça de duas mil peças. O Castelo de Windsor. Por um instante fui Clarice Lispector, agora sou uma obra em construção, filho do método Feldenkrais. Precariedade assumida. Indefinição estética e estrutural. Andrógena. Filhote de deuses estéreis. Castelo de legos, cadernos e livros. Tubo de ensaio. Minha feminilidade real, bruxólica e alquímica. Azul marinho.

Noutro dia, vi um peixe estranho e proibi sua entrada em minha memória recente. Falsear a verossimilhança identitária dos legisladores transfóbicos. Indiretamente observar. O peixe. Enquanto aproxima-se um câncer caranguejando lateralmente e suas pinças. Duelo trágico natural, drama de oposições fundamentais. Tao. Expressivo tango portunhol coreográfico. Kazuo Ohno e Angel Vianna. O câncer roda, faz movimentos de aproximação diagonal. O calvário dos cadeirantes é a rampa. O peixe flácido em ondulações psico-físicas-corporais, regulares e compensadas. Câncer e peixes. 


O passado faz-se presente em arcaicas premonições futurísticas. 

A temporada consagrou o maior peixe já visto para a burguesia nacional. Quero seguir reto toda a vida para buscar como entender porque não consigo parar de escrever assim, vou ultrapassar limites astrodinâmicos e sair do alcance fotoreprodutor do telescópio mais tecnológico do futuro. Demorei para matar a ultima estrofe, agora a presidenta não sou eu, reprovei nas disciplinas de retórica, I, II, III, IV. Vi sentar na minha cadeira um Creonte. Sou um deus infeliz que chove sobre uma nação pantanosa, pecadora, tola, ineficiente e brasileira. 

Ministrar conteúdos oceânicos profundos para seres anfíbios. Peixeis voam quando a cegonha está com fome, este é um sinal cânone, de milagre, físico e metafísico, misericórdia de luz para um breu sem precedentes e antepassados. A delação premiada do povo é a tortura. 

O polvo vive soterrado pelos séculos e sua história. Solto tinta por um orifício oculto. 

Eu e o processo evolucionista humano.
Entre as águas internacionais e o continente há uma pequena ilha, sempre. Macro-região de lagoas entre mares e montanhas. Centelha arenosa de dunas constantes que sabem existir. Sopros, disritmia cardio respiratória, vidraçaria ornamental de um boticário zeloso, soros. Falo vegetativo. Observação empírica. Mosaico de culturas extremo americanas. 

No planeta, os continentes se movem. Abrigar a maldade por brincadeira, precarizar pontes super-faturadas, levantar muros, divisória higiênica, inscrever conteúdos pornorepresentativos por tradição. Correr dois centímetros, anualmente. A guerra é todo esse ranço pelos conteúdos matemáticos, é ignorância anatômica que divide o átomo, filho predileto de uma família órfã, indisciplina infantiloide do ensino fundamental completo, torpedos de papel e cuspe sobre a criança tímida, didata, que bebe suco de beterraba nos intervalos e chora no banheiro.  Na realidade, todos os países estão no mesmo nível. O mar. 

Livre e hermético. Sou uma formação rochosa, abrigo fluxos correntes nas entranhas fronteiriças imensuráveis, floresce um infinito de espécies naturais em mim. Ebulir das águas toda a fauna, suas sociedades, microcosmo. Deus fracionou-se em sete bilhões de representações de si. Vivo e vive.

Aprendi a criar mitologia, a primeira mentira que me inaugura neste mundo e choram os olhos de minha mãe. Quando passo os dedos no meu cabelo cortado identifico pai, avó materna, a crueldade dos missionários jesuítas, minha herança genética imigrante e autóctone. Nego o cristianismo três vezes, badalos de pêndulos, de sinos catedráticos, doutrina simbológica propagativa mercantil pelo pecado alegórico artífice e graças. De redenção sou toda a resistência ou resiliência. Renego. 

2 comentários:

  1. Seu texto é tão aberto. Acho isso muito interessante. Torna-o acessível. Quantas descrições diferentes podem ser feitas a partir dele? É como olhar uma imagem e explicá-la. Cada um pode dizer algo, e ninguém está errado. Talvez algumas palavras não estão presentes no vocabulário de algumas pessoas, mas fica aí a oportunidade de agregar novas figurinhas ao álbum. Obrigado por derramar um pouco do conteúdo do seu frasco.

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