sábado, 3 de dezembro de 2016

Vegetal e o aprendiz de professor-poeta

(19/01/14)

I
Caminha
Concomitante
Caminho
Distante

Cresce sob a terra quase seca os vegetais.
Que já nascem a apodrecer no próprio pé.

Pobres criaturas férteis,
de solo genético ingrato.

Código
Semente e
Germina dor

Nasce,
cresce num estalo, 
estaleiro,
de um instante.

...

Caminha
O Caminho
Distante
II
Fruto oco cabaceiro,
Varão que não provê pão.

O filho que enterra, no quintal
sem pesar, por pesar.
A árvore pai,
que morresse aos pouco
pouco pouco
pouco pouco
 pouco
muito
 pouco 
e nada
morreu.

III
Nova ova minguante
minha lua creScENTE
CEIA CHEIA DE CHIA E CHÁ
                só, muito só, sóis e nadar. 

Água e sal
em tempo e memória.
Contendo cobertores no carro de dor.
Da primeira marcha, ao ponto morto,
não resta lágrima combustível,
de despesa ou em pensão póstuma.

IV
Vegetal
que, juros, viveu mesmo
no ápice y racional
como um canibal comilão
(e quem não é?)
(e quem não está?)

A vender-se em barraca de feira.
Com veneno e barata
abaixo dos tomates caros
e do feijão carioca
tua carne virado a paulista
nossa quarta de cinzas hereditárias.

É a chepa,
leite em pó da escola, cesta básica incompleta
nossa classe média baixa anunciada aos quatro ventos
anti-miséria karmica
sucesso sem ensino médio
safra fraca de solidariedade pequeno burguesa
minha inteligência singular de escola pública.

V
Pai, 
o céu é um apartamento de dois quartos com churrasqueira na varanda,
tem vista pro mar e pra montanha azul,
nele divido um dos quartos com meu irmão, 
faço do meu colchão um castelo pessoal, dos ladrilhos, o pátio e o salão,
do meu estreito canto esquerdo, um precário e virtuoso atelier, 
do canto direito espaçoso, uma sala de recepção para os meus gêmeos do bem. 

VI
Hoje estudo aproximações em carnaval e suas alegorias 
e sei o que amar
o mar.

Formei minha carapaça na matéria orgânica marinha,
conduzir exercícios de paixão e nascimento,
nas salas de aula, observo a organização rítmica dos corpos alunos.

Meu corpo é uma faculdade de dança para Santa Catarina.

Me chamaram professor, me arremessam frutos de maturidade,
alimento minhas plantas e ovos da poesia pobre, menino.

Eu, poetisa, discurso as delícias, a beterraba, o nabo e a bergamota,
uma gastronomia das palavras lusitanas, minha sopa hermética, 
caldo de carne e histórias, peixes, mariscos e outras ostras.

VII
Agora dessalinizado e sem matéria,
agrião, peixe, carneiro, faisão,
rumo a mortalidade daquele dejeto.

Eu, minha voz sem órgãos,
vós, palavras professorais,
dialogando na madrugada sob a mediação com deus.

Formalidade e elegância, contra teu passado de violência doméstica.
Se mente, grão mestre, furto e prato típico.

Receita de torta federal, coerência, norma culta de transito.
A tragicomédia brasileira em pele e osso,
esqueço a melancolia que existe,
meu cu e bosta.

VIII
Eu prodígio de um mundo espetacular,
engoli um dicionário por fome de nomes e medo.

Semeio palavras nas terras de papai,
para que meus afilhados tenham troncos linguísticos genealógicos,
para que tenham coragem e discorram,
para que não tenham só dor e lucidez,
para que me ouçam, 
cortando mais uma vez o tempo,
sustentando pensamentos, 
amálgama milagrosa da família,
criativo nos momentos,
nos ritos de resistência e da passagem.

Estará dito aos meus,
delícias temperadas de sal líquido do existir,
favor presente poema,
represente este presente por mim,
quando eu não mais gesticular ar.

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