segunda-feira, 5 de março de 2018

Homem Sem Umbigo Em Terras Desiludidas

Menino, você, enquanto inocência, eu, palavrão.


Nasce momento suculento, a juventude verde,
Complexa de setênios pré-socráticos, elementos,
Ser um ovo em choque. Posso tocar os galhos sem flores.
Eu tenho um raio. Diálogo, cheiro da parede, envolvimento,
Em banho de ouro, cantar as pobres cascas caipiras.


O espírito da infância como um trenzinho triste que volta ao Paraguay, terra natal, terra natal. Os negócios. A família pútrida, o lamaçal, o musgo, lodo divino que vem com o rio, as águas escuras, os santos xaropes, a chuva a noite, o pelo molhado, grudento, bendita gruta de nascer, a escolha escolhida, escolinha. 

Torturam as novas palavras, de peso esquisito contraditório fez justiça, afiado e quente, diamante de cortar vidro. A montanha fez frio, como corrigir corretamente. A desnecessidade. Ser adulto é ser quem se precisava. O horror, o horror, o horror, cinco vezes, horror, será a comunicação. Identidade. Das fontes, da fuga, da vida após as graduações, as faixas coloridas, as medalhas de metais, dos papéis nobres e letras douradas, restará os cabelos, as artes e o ilusionismo. Finalmente, vou aprender a fazer perguntas?

A estética desta estória me fez pensar como antigamente. As letras, fez conhecimento de mim, me ensinou a beijar de novo, a ti mesmo, no final da novela encontrar o amor, sê-lo. O movimento das roldanas lógicas, das catapultas retóricas, mergulhar em um livro de filosofia da linguagem, porque engravidar de cavalos, dois filhos.

O Castelo.
Célula de existir.

As mãos.
Música, manifesta.
Magna, anima, oficio.


Amanhã vou formar atores, esculpir seus ossos de expressões rebuscadas, vocabulário esotérico, teatral, monólogos e didascálias. Aqui não existirá dicionário, consultar as palavras é como orar. Falar com deus sobre filosofia da educação. Só posso crer em um professor que soubesse dançar o que escreve. Preparar o texto como quem espera o pão crescer. Assistindo a água secar das panelas, como detonador de um drama, uma merendeira, ocupar um prédio no centro especulado, espetacularizar uma aula de religião e gastronomia. Um poema, uma taça de café, plantar neste mesmo centro cultural um horizonte, cimento fora do eixo e acima dos prédios, mergulhar, abrir a boca e fechar os olhos, ver São Paulo. Que o mundo não seja cidades e a literatura não seja ciência, disse meu globo ocular.

A minha alma tem projetos. Demora semanas para escrever uma estrofe, mas dança. Contorna mistérios enquanto varia os apoios, ouve espíritos no decompor dos aniversários, é circense e rodopia, como um brinquedo medieval que não se sabe mais usar. Monumento, movimento, meu corpo, um museu de mim.

As fezes como comunicação intestinal, melodrama existencial matinal.

Hoje vi o cocô do cachorro e chorei feliz por estar ali.
Ontem tive um sonho com Stravinsky e Pina Bausch
Era um jogo dramático que misturava xadrez e dama.
A música estourando a caixa de som. É primavera.
Comigo, meu avô e meu bisavô também choram.


As pessoas têm feito orações cada dia menores, frases feitas, curta-metragens. O fetiche, o romance e a novela, o cinema novo, uma série sobre a vida e só, partituras e gambiarras em um plano sequência. Ou seja, eu? Comportamento meu, minhas avaliações e minhas notas máximas acumuladas, da alimentação crudívora dos livros legumes e dos sonetos saladas.

Não sorrir e estar com essa terra, 
quando choro, chove, choro, chove,
cai de sono cansado as pálpebras da nossa família. 

Em qualquer espelho que vejo, meu rosto é uma árvore genealógica, dos meus braços caem frutas maduras que explodem no chão. Eu sou um deus pulverizado com veneno e alimento. Eu sou o bicho da goiaba e faço o bem. A lesma das folhas, a lesma recém nascida e seu casulo.


A MORTE


Certa tarde construí uma hipótese. Não era a verdade, mas servia para explicar. Era fantasia, carnaval, invenção. Ela se constituía. Dizia: quando os da tua família, vieram para esta terra, vieram por uma ilusão. Era uma ideia, um sonho, vontade de verdade, da nostalgia do tempo em que os cavalos comiam maçãs. Quando ninguém ia à escola, quando brincamos com as espigas de milho e seus cabelos. O sonho na realidade, no acordado, nos cinco anos de trabalho semiescravo, no sem alegoria alguma, era um engano, era um golpe, era um roubo das sacas que ainda viriam da nossa futura terra.

Ô povo pobre, povo de poucas posses.
Vou codificar a gramática dos teus movimentos sociais.

Estou descobrindo as coberturas, estou cobrindo as descobertas.



Um dia saberei escrever, vou manchar a história como tinta escura, vou desmanchar os papel como água. Estilo, um cárcere dentro d'um bolo de casamento, dos desejos, seio, o tempo como uma esteira de supermercado. A carne tem suas ansiedades, os transtornos percorrem o músculo e a cartilagem, servido na mesa de cirurgia, ao vivo sob o mar vermelho, churrasco serei. Eu, não eu. Um ponto na dramaturgia da dança, que os mistérios nunca saiam do quarto escuro, fenomenologia fotográfica do abraço, revelar-se. A educação, a mãe deu, a vida.

FIM

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